sexta-feira, 7 de março de 2014

A inclusão das pessoas com surdez no ambiente escolar



Os desafios enfrentados pelas pessoas com surdez em relação á escolarização são diversos e historicamente geraram  debates e discussões  de cunho político e epistemológico entre gestualistas e oralistas. . Todas essas discussões não conseguiram resolver as questões relacionadas às práticas escolares , continuando a normalizar e naturalizar as diferenças no ambiente escolar.
Em relação às diferentes abordagens educacionais , nem o oralismo e nem a comunicação total favoreceram o desenvolvimento das pessoas com surdez  devido a negação da língua natural desses alunos e perdas consideráveis nos aspectos cognitivos, sócio-afetvos, linguísticos, políticos, culturais e na aprendizagem. Surge então a abordagem por meio do bilinguismo correspondendo melhor às necessidades do aluno com surdez em respeito a língua natural e a construção de um ambiente favorável a sua aprendizagem.
Partindo da ideia  de que  a escola é um direito de todos, a  Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva ( 2008 ) vem ao encontro do propósito de mudanças no ambiente escolar e nas práticas sociais/ institucionais para promover a participação e aprendizagem dos alunos com surdez na escola comum. Muitos desafios precisam ser enfrentados e as propostas revistas, conduzindo a uma tomada de posição  que resulte em novas práticas de ensino e aprendizagem consistentes e produtivas para a educação de pessoas com surdez nas escolas públicas e particulares.
A escola inclusiva  é concebida como um espaço privilegiado que possibilita a troca de experiências, conhecimentos, comunicação e interação. Portanto, faz-se necessário, descontruir os modelos conservadores da escola comum e reinventar uma nova educação inclusiva voltada para o reconhecimento e valorização das diferenças, possibilitando a acessibilidade dos alunos com surdez na escola comum. Pensar e construir uma prática pedagógica que assuma a abordagem bilíngue e se volte para o desenvolvimento das potencialidades das pessoas com surdez na escola é fazer com que esta instituição esteja preparada para compreender cada pessoa em suas potencialidades, singularidades e diferenças e em seus contextos de vida  ( DAMÁZIO, 2010, p. 8 ).
Para que o ambiente de aprendizagem seja um lugar favorável a todos os alunos, os educadores devem potencializar a capacidade do pensamento, questionamento e conflitos com novas ideias, além de utilizar materiais diversificados com estímulos visuais. Segundo Poker ( 2001 apud Damázio,  2005, p.7 ), as trocas simbólicas  provocam a capacidade representativa desses alunos, favorecendo o desenvolvimento do pensamento e do conhecimento, em ambientes heterogêneos de  aprendizagem. Mais do que uma língua, as pessoas com surdez precisam de ambientes educacionais estimuladores que desafiem o pensamento e exercitem a capacidade cognitiva desses alunos.
Damázio ( 2005, p. 6 ) ressalta ainda  que,

(...)  concomitante a essas transformações da prática pedagógica para atender o ensino inclusivo, é necessário que se garanta igualmente o que lhe é complementar, ou seja, o atendimento educacional especializado, que consiste no que é diferente do que se ensina nas salas de aula comum para todos os alunos ouvintes e que é fundamental para a educação escolar de alunos com surdez.

O Atendimento Educacional Especializado em seus três momentos: AEE em Libras, AEE para o ensino em Língua Portuguesa e AEE para o ensino de Libras, oferta aos alunos com surdez vivências em ambientes inclusivos de aprendizagem. O AEE é extremamente importante para a inclusão escolar, por preparar para a individualidade e coletividade, promover o processo de comunicação e  derrubar barreiras postas pela sociedade.
É preciso mudar nossas concepções e desenvolver  ações que busquem  efetivar  a inclusão em todas as dimensões, principalmente na escola comum. Como nos afirmam Stainback e Stainback ( 1999 apud Damázio 2005, p. 14 ), a razão mais importante para se adotar ações inclusivas no cotidiano sócio-educacional está no valor social do acolhimento das diferenças, em busca das marcas da heterogeneidade, em favor da igualdade de condições.

Referências:

DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação Escolar Inclusiva das Pessoas com Surdez na Escola Comum: Questões Polêmicas e Avanços Contemporâneos. In: II Seminário Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, 2005, Brasília. Anais... Brasília: MEC, SEESP, 2005.  p.108 – 121.

Coletânea UFC-MEC/2010: A Educação Escolar na Perspectiva da Inclusão Escolar. Fascículo 05: Educação Escolar de Pessoas com Surdez – Atendimento Educacional Especializado em Construção, p.46-57.



Um comentário:

  1. "Portanto, faz-se necessário, descontruir os modelos conservadores da escola comum e reinventar uma nova educação inclusiva voltada para o reconhecimento e valorização das diferenças, possibilitando a acessibilidade dos alunos com surdez na escola comum." ( DAMÁZIO, 2010, p. 8 )
    Oi Claudinha esta afirmação de Damásio que você fez uso no seu texto é extremamente importante para nossa reflexão, pois de fato as escolas brasileiras precisam ser repensadas, porque as práticas tradicionalistas que valorizam os melhores alunos e excluem aqueles que não se enquadram nos padrões da escola ainda é uma realidade.
    Contudo nos resta uma grande esperança, de que as sementes da inclusão estão se expandindo pelo Brasil e num futuro próximo, quem sabe, estaremos com uma nova escola redesenhada, reiventada nos padrões verdadeiramente inclusivos.

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